eu gosto mais do papel do que da tela fria. eu preciso ficar sozinha mas as vezes não gosto disso. eu detesto sentir dor. é parte culpa do meu pai - é tudo culpa do seu pai! - disse a psicóloga ou qualquer outra delas que dizem tratar da mente-sentimento da gente. ela disse que o que vivo é reflexo da minha infância - meu pai e seus vícios - eu entendo, mas isso não é fato querido e imutável, é apenas fato explicado. quando eu era criança e voltava pra casa depois de andar de patins com os joelhos ralados, meu pai brigava, ele brigava não por eu ter caído, mas sim por eu ter me machucado. eu nem sentia tanta dor assim, mas nesse momento eu sentia. passados alguns dias vinha ele desfazer as cascas, enquanto eu dormia - acordava com ele mexendo nas feridas - elas ainda não estavam prontas, mas ele não queria ter esse tipo de lembrança, não queria me ver machucada. sempre olho pros meus joelhos e lembro dele e seu cuidado descuidado. papai não gosto de me machucar, vem me abraçar, eu ainda gosto de dormir no teu peito; mas as paredes me protegem e açoitam. as cicatrizes estão até hoje para me fazer lembrar daqueles anos. as cicatrizes estão até hoje para me fazer lembrar.
(13/03/08)
(13/03/08)