sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ainda sobre ouvidos e otras cositas más

a bebida naquele copo, o copo naquela mesa.
bebo ou não bebo?
bebi.
urghhh... gosto amargo.
descida lenta.
algumas palavras.
alguns silêncios.
algumas expressões e suas ausências.
outro gole.
o que posso fazer? tive sede.
está menos amargo.
movimentos.
movimento. mais um.
geladinho. ai, eu gosto de coisas geladas.
as descidas começam a tomar um ritmo diferenciado.
entre palavras e gestos e pessoas.
entre buscas e sentidos e buscas por sentidos.
entre.
até mesmo quando se está no vazio, estamos entre o vazio.
e algumas coisas parecem ter verdade agora.
e algumas verdades estabelecidas começam a ser mentiras.
será tudo culpa do gole?
ou foram as pessoas? elas que puseram a bebida no copo.
eu... eu não pedi nada. elas que me deram o que não pedi.
mas será que depois de um determinado momento eu comecei a pedir?
não preciso dizer palavras para que algumas delas saibam o que quero.
mas na maioria das vezes tenho que dizê-las para ratificar o meu não querer.
eu quero mais.
bem mais.
pode descer!
cadeiras parecem tão mais confortáveis.
as nuvens movimentando-formando-lentamente-juntamente com meu gesto repititivo.
repetições...
é engraçado como a vida é cheia disso.
vamos conversar sobre isso também agora ou noutra hora.
mas eu preciso conversar! afinal de contas, corre o risco de dormir.
numa cadeira? não. quer dizer... talvez. eu nunca consegui dormir numa cadeira. mas acontece que as coisas mudaram tanto, que já não sei muito bem delas.
mudança...
outro assunto interessante para nossas conversas.
algum filósofo escreveu uma vez sobre um homem e um rio, no qual o homem atravessa o rio. um mesmo homem. um mesmo rio. mas ambos diferentes. e agora você deve estar pensando que o rio e o homem são diferentes, e são sim, mas não é só isso. o homem que está na margem não é o mesmo que o atravessa, e nem o mesmo que o atravessou, embora seja o mesmo, mas difente, tá aí. mudou. como pode? podendo ué. o rio mudou suas águas, e o homem era um na margem, outro atrevessando, e outro depois de atravessar.
vocês lembram disso? eu esqueci a merda do nome do cara. e também vocês estão pouco se fudendo pro nome dele.
familiar.
me sinto tão igual aos outros.
momento familiar de clichê mesmo.
afinal todos os outros também fazem isso.
entre goles.
entre pessoas.
entre conversas.
mas me sinto legal assim também.
também. de novo. vários. vamos repetir as repetições e mudanças repetitivas pra variar.
talvez seja o fato de eu não fazer isso sempre.
não quero mais. obrigada.
- só mais um.
pára. por favor não.
[ele coloca mais bebida no copo e acabo bebendo]
- vamos só mais um.
não quero. não quero mais.[mãos tapando o copo e cara de brava além da entonação] que porra!
[e expressões de espanto de novela mexicana vem à tona]
repetir pra sempre é chato caros.
e muito mais caro caros são os ouvidos de todos vocês pra tão pouca conversa e tanta máquina.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sobre meu ouvido

o meu ouvido
entorpecido
por canções que me acendem e me apagam
e apagam - olvido meu ouvido

às cinco horas da tarde
o dia é um silêncio de paisagens
o meu ouvido entorpecido
por canções que me mantém
e eu sou o teu refém
ou de qualquer outra coisa que nem sei bem

enquanto isso rola um blue "rolling in blue[s]"
e o sol dança seu carnaval astral
delírios em meu coração de pulsação planeta
meu ouvido preso a qualquer sentido
o resto do meu corpo banido
meus olhos e bocas eu tinha
agora olvido

Livro Primeira Aparição da Manhã - Luciana Andradito

  SINOPSE “Primeira aparição da manhã” é uma seleção de poemas que compõem a primeira obra literária da escritora Luciana Andradito. Produzi...