ela abre sua caixa antiga
como quem abre o coração
lentamente
de peça em palavra
ela conta sua vida
o primeiro brinco
de bolinha
só um só
o outro se perdeu
com a meninice
o primeiro conjunto
um par de brincos e um pingente
de anjos repousados numa lua brilhante
um dos anjos da orelha
logo resolveu voar
uma bailarina veio preencher as ausências
um tempo depois deixou de dançar no seu peito
o primeiro anel
não era aliança
mas foi do primeiro amor
cheio de estrelas que rodavam
o segundo era de pedra
uma tentativa do amor segundo
que um dia caiu e se quebrou
a pulseira que o pai achou e deu pra mãe
a mãe usou que deu pra avó
que guardou usando
pra dar pra neta
aos quinze anos
o pingente com a santa
que o pai mandou
pra carregar no peito
e andar com proteção
um par de brincos dourados
com pedras verdes da avó
que lembram os olhos e cabelos dela
o anel que comprou com o primeiro salário
uma borboleta de prata indiana
que acompanhou tantos dias
e que guarda para a filha
outro que comprou com o pagamento atrasado
de lápis lazuli
pra inspirar os dias
o conjunto de um par de brincos e anel
de pedra coral num vermelho intenso
da cor da paixão do amor que deu pra ela
hoje ela anda com um relicário de pedras miúdas
marcassitas que caem com o passar dos dias
e pra preencher suas ausências
ela guarda uma pedrinha violeta
pra iluminar seu coração
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