quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sobre relacionamentos

a verdade é que nossa casa pegou fogo - e demais; mas como a gente tem mania de teimosia: resolveu catar o que sobrou e fazer castelos de cinzas. a brisa, sabida, resolveu que queria passar e passou, ela, de leve, levou nossos restos unidos, deixando-nos sós, mais distantes e perdidos.

a história da terra nua, de alguém que planta, e de uma vaca que aparece, come tudo e rumina depois.

EURI

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sem neurose

ay mon! me desculpa caton... eu gritei tão alto que te fiz doer os ouvidos. eu sei - tenho voz fina e às vezes salto alto, mas é assim mesmo. aprenda que algumas coisas são bem claras pra mim, tipo: ou sim ou não;
o corpete me aperta pra lembrar
eu te avisei que sou do tipo que quer
e o que eu quero mon
não é esperar
eu tenho pressa
e não corro com as pernas
uso elas pra otras cositas más
mas a maquiagem escorre
e me chama
dias são poeira
e eu sou terra
e digo que vermelha
e digo que vermelho
se você demora mon
adoro palco mesmo
só ás vezes faço rituais
o meu preferido é gritar
MON MON MON MON M...
tipo bem alto
MON MON MON MON MON!!!!!!!!!
alguém além de você vai escutar
e pode ser que seja divertido

aos amantes todas as promessas
e eu sou atriz
cuidado
isso pode ser inventado
tudo agora está por um triz [?]
sorria e eu beijo seus dentes
mas sinta
porque se for de verdade
eu posso parar de fingir
...
e gritar com força

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Papai

quando eu tinha seis anos e ele tava bêbado, beijei ele sem querer. foi um selinho que pegou bem no canto da boca e a primeira vez que meus lábios foram tocados por outros. eu pensava que era pecado, e que por minha causa ele ia se separar. nos dias seguintes cheguei até a olhar pra ele e rapidamente desviar o olhar, hábito. fui desabituando com o tempo.

depois de alguns anos ele se separou e me fazia dormir na cama dele. minha família começou a perguntar coisas estranhas sobre o que papai fazia. ele nunca tinha feito nada daquilo que eles diziam. tive medo, me fizeram medo, um dos medos mais antigos que lembro é esse. não durma com ele porque você pode acordar com dor em alguns lugares e você não pode sentir isso, porque ainda é muito pequena. fazia pouco tempo que eu tinha feito dez anos.

aos dezesseis, me fazia andar de mãos dadas com ele pela rua. todos o conheciam e ele gostava de me exibir, todos perguntavam se eu era a namorada e o quê ele tinha feito pra me conseguir. ele ria e se coçava, não digo onde, satisfação. um tempo depois começou a me levar pro pagode do bairro. muito carinhoso parava de dançar pra me dar beijos no rosto, abraços e pegar forte em minha mão, como quem quer confirmar que está. uma mulher se aproximou - posso dançar com seu esposo? eu ri, encolhi o corpo e disse que ele não era meu esposo e que ele tava livre.

sim, havia restaurantes, vários. você adora exibir ela por aí, não é? família preocupada ou é chato ou bonito. teve um dia que fomos comer um dos seus pratos prediletos, filé com alho na chapa, depois fiquei com gases e mal hálito porque tinha muito alho com molho barbecue; ele bebeu muito e andava caindo no meu corpo como quem pede sustentação. outra mulher olhava e veio logo na cabeça louca dele que ela estava olhando porque achava que éramos namorados. eu estava de tomara que caia com um bustiê por baixo e ele disse que ia fazer uma coisa pra ela. eu juro que ele fez não pra mim, muito menos pra mulher satisfazer qualquer desejo entrementes. eu sei que foi pra ele, senti na hora que aquilo o faria se sentir bem, ele provavelmente achava que aquilo ia aumentar seus pontos de virilidade. ele pegou em um dos meus seios no restaurante, assustei mas não pude demonstrar reação, não sei se ela viu, só sei que ele gostou. eu pude ver o sorriso. não senti nada, estava de bustiê daqueles com bojo. na verdade eu senti pena dele, pena por ter que se afirmar dessa forma, pra si mesmo e pros outros. e também por projetar um prazer em mim que nunca existiu. eu não sabia e não via as coisas como vejo hoje. quando penso nisso, me dá vontade de voltar atrás me levantar da mesa e dizer: você é um idiota e eu não sou mais sua menininha nem nunca vou ser sua mulher. adeus.


a verdade é que só tive coragem pra fazer uma cara bem feia, daquelas de quando não se gosta de alguma coisa, e de esperar uma explicação. a explicação veio e foi: você é minha menina e eu posso fazer o que eu quiser. fiquei calada, ainda terminei a comida e a bebida,afinal, ele gosta de pagar. só depois consegui dizer adeus.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Rouge sacana

amor é como batom vermelho
se você se pinta com ele
você se encanta
e todos ficam encantados
mas se você guarda na bolsa
ele sempre vai dar um jeito de abrir
e se espalhar
sujando tudo dentro;
e só vai sobrar pra você limpar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sobre bárbara de chico

vadia

me dá vontade de morder
e gritar bem alto
de puxar os cabelos dele
e beijá-lo até doer

agonia

meu sexo afoito
te pede
pra ter calma depois

sacia

cansei de poesia
agora não tem maria

cedia

você já devia saber que no final
eu trato mal

pura hemorragia;

escatologia
gia gia.

Pago com o corpo

as pessoas são muito engraçadas
e até quando mostram estão tentando esconder
não é que faltem putos
o que falta são investidores
a fuga do amor é mais que contemporânea;
pago
me diz quanto é que eu pago
ou te humilho ou me humilho com você
isso ainda decido
mas quem decide sou eu.
e a melhor parte é a hora de ir embora
eu posso sair e você vai pensar em mim
porque foi eu que te dei grana
e a gente gosta disso
de saber que fui eu
e que tem grana
porque tanto é liberdade quanto não:
não.
mas eu posso pensar ou não em você:
não.
é melhor mostrar outra coisa qualquer pra esconder

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dois minutos

eu deixo pistas quando digo tchau
porque nunca disse adeus.

eu esqueço,
esqueço:
esqueci.

Livro Primeira Aparição da Manhã - Luciana Andradito

  SINOPSE “Primeira aparição da manhã” é uma seleção de poemas que compõem a primeira obra literária da escritora Luciana Andradito. Produzi...