segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A água lava e o tempo leva

os meus filhos
aqueles que não vivem
foram levados
do meio de minhas pernas
para pedaços de algodão


Flutuação

ele foi
levando com ele
o cheiro do meu corpo

eu fiquei com um abraço
daqueles de madrugada
e a cama vazia do lado

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ampulheta

sobre um corpo deitado
- o inerte -
o tempo que passou
e deixou a poeira
para contar

nos olhos repousados
- o escuro -
o que não foi
tudo que pode
e não é
mas existe...

poeira formam teias que trazem aranhas
corpos atraem outros corpos
areias e terras migram seus grãos
lado, outro, cima, baixo, ponta, regresso

a única paragem dessa vida
é o respiro
o resto é branco

cinza para o que fica

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Quando cheguei na cidade sem mar




de sorriso na boca
olhos inchados

um amigo peludo por duas noites
seu choro fez ele partir

quando cheguei na cidade sem mar
fui parar em outra cidade
para chegar nesta cidade

onde meu sono crescia
e me fazia acordar tarde

onde quase ninguém tinha carro
e eu ralei muito os joelhos

ganhei a primeira bicicleta
roxa com cestinha e garupa

meus primeiros amigos de outro lugar
as primeiras palavras que não sabia entender
e as que dizia e ninguém entendia

mais dois irmãos e outra mãe
um quarto só meu
que aos feriados era também da minha mãe de verdade

outro amigo peludo
que quase foi embora pelo cheiro forte do seu xixi

meu avô comprou uma casa pra ele
e fui feliz com o sono dele no meu bucho quase um ano

mudamos de casa várias vezes
vários amigos indo e ficando

mais dois amigos peludos
que também eram amigos:
um grande bem peludo
outro pequeno de pelo baixo

um carro vermelho levou meus amigos peludos para sempre

onze pessoas:
a casa das sete mulheres

mais outro ano
outra casa

outro amigo peludo bem pequeno de olhos de semente de mamão

e chegamos na nossa casa azul
onde estamos até hoje

quer dizer
hoje eu tenho duas casas
uma de dia e outra de noite

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Ninhário

é você meu ninho. e só nós dois somos responsáveis pela nossa arquitetura.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Assuada

em mim só existe
o silêncio de
um pulso

se pudesse organizar meus sons
faria calar alguns pensamentos


Memórias a fios

meus cabelos crescem
com o passar dos dias
e acumulam memórias

se os ventos levassem
com os fios que caem
uma má lembrança

e trouxessem
a cada fio que cresce
junto uma esperança

a vida se renovaria
sem rancor nem mágoas
e o coração seria calma

Vagalume

aquilo que brilha e vaga
a gente se atrai
corre atrás e
tenta pegar

mas exitem coisas que fogem das mãos
e fica tudo escuro de novo


Deep blue

traz agosto meu desgosto

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sobre universos paralelos

a gente aprende bem cedo
que é preciso fazer escolhas

quando tomamos uma opção
não estamos só andando por um lado
dizendo se é certo ou errado
ou indo em busca do mais adequado

ao preferir algo estamos determinando 
uma possibilidade entre muitas
e isso faz com que nossos afetos 
abram universos em multiversos 

sábado, 22 de junho de 2013

Assim

eu preciso de você
do seu corpo pra
ter boa noite e
dizer bom dia
cada vez que
a lua fecha
os olhos
e o sol
boceja
e se a-
longa



segunda-feira, 27 de maio de 2013

Saudade entrego adeus


no meio de nossa casa mora um rio
o nome dele é saudade
e todos os dias atravessamos suas margens
em movimentos de ponta a ponta
com a mesma vontade no peito

The dreams that breathe your name

meu corpo pulsa
grande e forte como um planeta
o teu deseja
como um sorriso de criança

nossos olhos se encontram
e você é em mim
e tudo fica suspenso por instantes
para crescer e criar e refazer e transformar

as dúvidas se calam
os telefones esperam
os outros repousam

e é assim que partimos segredos
e pedimos desculpas em silêncios

Sobre cinzas, amarelos, rosas e ocres

parecia chuva
mas era só tristeza

parecia sol
mas era só abraço

parecia flor
mas era só carícia

parecia morte
mas era só um fim

segunda-feira, 1 de abril de 2013

You and me my love

calor que embala o sono
suspiro que adoça o ouvido

meu,
manuel-joão
de
barros

canção de ninar nos meus cabelos
doce poesia dos dias

ninho

tua, stella.

Inútil paisagem

você foi a mentira que deixou saudade
e tudo se foi

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Bluebreu

palavras que se ganham antes de dormir
e se perdem ao acordar


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Holiday

o infinito é um oito deitado de pernas pro arrrr

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Librina

ela era a chuva que estava sendo levada pelo vento para outro lugar
ele era uma paragem
e o amor que ele tinha por ela
e ela tinha por ele
foi-se com uma brisa forte e teimosa

e depois o sol se descobriu

Livro Primeira Aparição da Manhã - Luciana Andradito

  SINOPSE “Primeira aparição da manhã” é uma seleção de poemas que compõem a primeira obra literária da escritora Luciana Andradito. Produzi...