segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Subcutâneo e mundo animal

ela já não chora mais, simplesmente porque não há mais dor. a dor está tão longe, tããão lounge. distante da camada superficial.
ela se entrega, e superfranca pede pra que ele não chegue perto, tempo é coisa que o vento leva, e ás vezes se precisa de muito vento; mas ele tem a capacidade de fazer o que quer, e o que ele quer é improvisar. se é assim, então tá. que tal começar por suas habilidades?!
seu principal improviso é atacar, primeiro sutilmente, com tudo bem, como tá, e depois quando ela vai baixando a guarda e começa a se envolver, ele improvisa atacando com palavras. palavras pra ela são espinhos, e os dele são os maiores e mais finos, daqueles que conseguem passar da pele.
coitada... ela ainda não sabe o que nelson rodrigues disse sobre as palavras. que todas elas são bonitas, e que é a gente que encontra coisa feia nelas. as palavras existem antes mesmo das coisas, tanto é que tem coisa que tem o nome de uma outra coisa. e ainda tem gente que olha pra uma coisa sem nome e fala, pensando que achou um nome pra essa tal coisa. dãã
mas enquanto as coisas ficam estabelecidas na pele tudo está bem, até a acidez da barriga não incomoda tanto, engana-se com algum chá em sachê de supermercado que tem mais da metade do seu efeito reduzido. quando entra é tudo tão duro e fere tanto, mas às vezes as pessoas gostam de sofrer e até pedem.
algumas coisas se apagam e desapegam depressa: sentimentos apodrecem; são como merda que podem até ser usadas para adubo de alguma coisa.
ainda bem que existem segredinhos ou coisas óbvias que a gente só percebe porque ficou mais velho, ou se fodeu tanto que tentou criar alguma coisa bonita, como a sophie calle e suas cartas que correram pessoas e países e fizeram sua fama e de outros.
a moral de hoje é que o subcutâneo deve ser guardado por soldadinhos de chumbo especiais, prontos para combate, que saibam a hora de parar de tomar café, porque quando se bebe café demais pode dar sono, e qualquer coisa sobre porcos-espinho macho e suas técnicas de ataque que também é defesa.
já ficadica: o soldadinho de chumbo quando estiver cansado deve repousar dentro de suas saias, porque debaixo das anágoas é quentinho e provavelmente ele sentiu muito, mas muito frio de noite, e vai ser a sua vez de cuidar dele.

Esconde-esconde

às vezes vou embora sem dizer adeus
já até conservo um arquivo considerável de tentativas
mas só hoje me perguntei:
será que você ficou me esperando voltar?!

fiz uma brincadeira infantil
me escondi pra te testar
e tive minha resposta por um dia
misturada com abraços
quando vi você me procurar

é tão fácil ir embora
é só dar as costas e sair andando
a gente é que dificulta

o difícil é ficar e continuar
mas às vezes é bom sofrer

eu só não quero que você me espanque
o resto todo eu quero.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Call me

tenho 69 anos. e estou aqui para escrever minhas memórias de puta velha. to aproveitando também pra deixar meus contatos: marco encontro com bofes, bofinhos em transição ou já tammygretcheesta, barbiezinha e barbiezona, crossdresser e trannyfag's, mas já aviso que tenho preferências por homens de boceta e/ou mulheres com cinta-pau. pero pego o que vier prontofalei. um beijo e me liga que vou ficar esperando sem calcinha e dedos ágeis.

quero deixar bem claro também que já perdi tantas oportunidades quanto os bofes viu, e pense que já estive em muitos lugares tentando de tudo. agora que virei feitiche - vovó do sexo - também virei escritora pra aproveitar a moda da lolita pille, mas aviso que abuso bem mais que a patricinha de paris. e tem outra coisa, já que agora tenho um espaço pra mim, vou deixar um recado prázamigas: sua amiga bocetinha berenice não é de mel não, apesar dele chupar bem ela, ele vai te deixar viu, as pessoas sempre passam. tudo que ele fez com e por você, ele já fez comigo e com outras, uy, e já tive tantas fêzes, e tudo que ele diz pra você, ele já disse pra mim. então não ache que sua vida vale somente isso.

enquanto você está aí sentado pensando na próxima transa casual ou no seu parceiro e em como você gosta de que tudo ocorra gentil pra que não haja dor, aviso logo que clamo por sexo, e clamo pra que seja forte, pode entrar com força e puxar meus cabelos, gosto é quando dói, até deixo bater: garanto usar a boca de fárias formas pra agradecer. sei que você deve estar pensando que tenho a língua dura por causa da idade, mas é preciso que saiba que treino ela sempre que possível, ela é molhadinha e macia viu.

entraqueeutoapertadinha

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Carmita

o quê? pára de falar besteira boy. tá despirocado? tomou docinho foi? até parece que eu quero aquela sensação que te faz sentir um idiota. prefiro sentir. e digo mais: se você quiser que eu fique nem me peça, muito menos me segure. me pague um copo e... ou me arraste pra um cantinho onde a gente possa se foder. foder junto é até bonito. foder só é foda. tá, já sei, trocadilho clichezinho de merda.

ã... logo vocêêê?! você entra e sai daquele jeito gostoso e depois quer que a gente fique só amigo boy? tomou o quê que eu também quero que eu não sou obrigada a ficar de bonita só fazendo a voyeur. você não tem medo neahm? você não tem medo do eu que posso fazer. posso colocar ácido pra cair do teu chuveiro viu, e digo tipo soda, essas coisas que corroem. e nem finja que não sentiu porque eu senti você jorrando primeiro. sou vivida que eu não preciso de amigo só preciso de um corpo dentro de mim.

domingo, 18 de outubro de 2009

Babylon

com toda a sutileza da verdade, agora mesmo, depois de ver fotos antigas: aquelas mesmas, que devem ser jogadas fora; pensava que quadrinhos te dariam futuro. como fui idiota. só agora entre tantos putos e putas pude perceber que todos os seus personagens não passavam de você.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Carmita no tuíter

armada com um secador de cabelos corre
ele a puxa pelo lenço
- ela cai -
e como sequela a meia rasga
pronto;
agora tudo pode acontecer.
uhm...
isso é bom.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Dicas da primavera

um pouco de chuva, flores no alto e nas calçadas, buracos no asfalto, romance, cheiro de flores à noite, caminhadas só e de mãos dadas, rehab, o presente de uma samambaia pra se juntar a minha coleção de plantas: um lírio da paz, tinha uma pimenteira que secou, sim, je sais, também me preocupei na época, várias coisas desandaram em ma vie; a descoberta de uma perpétua rósea, surto de borboletas que nunca vi: pequetitas, verde esbranquiçadas, com pintinhas, asas duras que fazem um barulho bem peculiar ao voar e insistem em mim pousar.

Madame Fraise II

\quando perguntada sobre seus sentimentos\

você não me ama e eu não te amo também: perfeito.
agora realmente está tudo bem.

[beijos]

uhm...

[...]

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre encontros

quero te agradecer morando em você
sei que não preciso de permissão
mas preciso saber a que horas está em casa
preciso também saber se está acordado
pois teu sono é tão profundo quando não estou do teu lado.

Esperança

a esperança é um bichinho que uma criança desenhou numa folha verde
e insastisfeito com sua condição de folha quis voar
e insastisfeito com seu vôo insiste em entrar nas casas
que confundido com um invasor às vezes é pisado.

Não sei

não sei mais falar, abraçar e dar beijos
- o corpo se encolhe no automático
deitar e dormir ao lado
segurar tuas mãos frias pelo calor dos dias
no nosso silêncio calar a mente
e agradar teu corpo cansado
entrar no banheiro quando estás em teus momentos mais básicos
dizer adeus pra tudo que nos rodeia
e coisas sinceras como "eu gosto de você"
mas tenho vontade
e acho lindo quando você faz simplesmente o que tem que fazer
chegue mais perto
e nos faça acreditar e saber tudo outra vez

Final de setembro

talvez se um dia chuvesse você me traria sol...
talvez se um dia eu chuvesse você me faria sol.

Sobre tamanhos

eu não tenho cabimento
só caibo em mim e você
eu que não tenho cabimento
só caibo o mim em você

Torpedo

olá querido.
estou começando a deixar a luz entrar:
por isso é natural se acender e apagar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Umidades

relacionamentos são só sobre aceitação e rejeição, o resto é acessório de cinema particular. as mulheres são mesmo o ser mais ininteligível dos seres humanos clarice, por isso elas dançam, e quando dançam elas mostram sua verdadeira índole: homens aprendam a dançar e façam bom proveito disso; mulheres dancem mais, sintam mais, estamos aqui é pra isso mesmo.
nessa vida de erros e acertos soy una señorita bailante. quem viu sabe, não é preciso descrever o ritual. e sim, é um ritual. são as mesmas sensações de quando uma mulher entra no mar e caminha dentro de suas águas. são as mesmas sensações de quando uma mulher tem dentro de si o líquido espesso de um homem.
enquanto homens querem suco, algumas mulheres tem suco constantemente. é combinação. tudo isso é ritual. estamos dentro. o mar assim como a mulher tem a capacidade de ser profundo, por isso as duas estranhezas se dão tão bem.
acionamos algo dentro que manifesta o olhar, e não pedimos isso. não dançamos pra ter olhares. oquei, isso também acontece, mas não é o motivo principal, a gente sente. o mar envolve porque é um ser vivo e é de sua capacidade envolver outros seres. mas a dança é a gente que inventa, e inventa porque sente. a gente sente tanto, somos esponjas que absorvem qualquer tipo de porcaria e nesse momento de duração extremamente relativa temos a oportunidade de catarse, gracias a la vida. esse é um bom método pra se limpar, principalmente depois da meia noite.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Choradela: rimas fáceis

porque as minhas palavras eram as dela
e pra ela brilhar no sorriso
que entrava pela minha janela
a roupa que eu vestia era ela
até nas noites quentes de lua amarela
o quarto cheirando a morango de vela

minha morena cor de canela
é a arte/moldura da minha tela

cortando meu coração à rodela
foi assim que me deixou
como se eu fosse moela
e eu a esperar por ela
no frio que se tornou a cidadela

agora minha magricela baila em braço que não encaixa no dela
e eu na choradela
volta e me rela minha bela

porque meu sorriso era ela
e eu tinha gosto dela na minha boca
nem que fosse só com palavra dentro

sim. comprei uma cinta-pau e fiz um poema tsc

sábado, 29 de agosto de 2009

Um mais um

ela já havia tido outros e outras, e ele também. mas ela olha com um olhar quase; quase meigo, quase bonito, e ele segue atrás, percorrendo o caminho do cheiro até sentir o corpo. talvez por curiosidade, talvez porque estivesse procurando algum remédio ao tédio, o fato é que ele sente o impulso e vai, e é engraçado como a ordem natural das coisas acabam tendendo a pares: dna, monogamia, a primeira conta que aprendemos a fazer - um mais um; pés, mãos, pernas, olhos, ouvidos, mamilos; caixas de som de pc, média de número de filhos entre as clases alta e média, talheres para jantar cotidiano em família tipicamente brasileira.
a maior paixão dela é ter algo pelo o que se apaixonar - característica de escritores herdeiros de henry miller etc - e isso é claro que não quer dizer ficar apaixonada, mas apenas se apaixonar pelo prazer de. se for mais efêmero melhor, porque têm-se a possibilidade de se apaixonar mais [?].
a maior paixão dele é ter algo pelo o que fazer, ou a se fazer, apenas para acalmar a sua inquietação na alma de artista.
o fato é que ele tinha algo a fazer, seguir, e ela tinha algo a se apaixonar, portanto ambos se satisfaziam.
mas não há quem diga que não há amor: o maior amor dela era ela mesma, e o maior amor dele era ele mesmo: por isso ficavam tão bem juntos: o que se sentia e ouvia alimentava o ego de cada um: necessidade básica, fisiológica: coisa mais perfeita e fantástica: eu.
e o eu te amo vinha do meio das pernas, isso significa profundidade, mas nem tanto assim.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Madame Fraise I

há de se enfeitar o jardim
com os meses e as novas flores
há de se enfeitar o mim
com meus amantes e amores

[madame fraise é tabu mon amour
chão vermelho que se pisa
rouge que marca pele]

sábado, 22 de agosto de 2009

Sobre fôlego

ela vê tudo tão azul e triste
comopode?!
azul não é triste sempre

ela sobe algumas escadas
e de azul passa pra o branco
mas o olhar é o mesmo
e o branco é tão de nada
nada de paz

ela decide que deve correr
e o vento que não tem cor
mas traz cheiro
corta pele
o vestido rasga
e ela procura segurar sua vida
com as mãos no vestido

e a trilha é um samba antigo de carnaval triste

ela fecha os olhos pra sentir
e o que ela sente é fumaça
fumaça nos poros
e ela pensa que é vida
e pensa também que está viva

um algo ela carrega e não se sabe porquê e nem como
só se sabe que ela vê dentro; portanto é uma imagem
talvez algo diferente, talvez algo de outra cor, talvez algo que nunca se tenha visto antes

e o mar tem raiva
com água verde leva
ela se deixa ir afundo
com a idéia de algo e de vida
achando que algum dia pode tocar algo ou ser tocada
e de fundo mesmo vê pretextos pra sorrir
nunca antes se soube o que eram sorrisos
e tem um segredo:
segredo que ela mesma não conta pra ninguém:
mas ela acha que viu cavalos-marinho:
agora ela decide que vai nadar em busca de.
- toque.

e a trilha é um tambor fortemente marcado com alguma percussão rápida

mãos bronzeadas a puxam de volta
sim, sim. sim! é uma imagem! e colorida!
mas deixa ela sozinha no meio de todomundo que é praça vazia
esperando vento e bala quente perdida também
ela grita
e ninguém sabe o que pede
ela grita sem chorar
nunca se soube o que é choro e só agora se sabe gritar

comopode
a gente vê e não entende
mas ela é assim
verde tão claro quase branco
transparente
e continua a procura de.
- pede.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

06:23

insônia é sentir tudo às vezes mais
menos, confuso mesmo
às vezes é só sentir a dor da manhã
nos olhos e no peito
ligo pra você quando tenho insônia
mas não sempre pra não ter que te acordar
e você não gostar mais de mim
porque sou chata
gosto de te dar bom dia com minha voz amanhecida
na verdade enrouquecida da noite
e ouvir seus risos de onde quer que esteja
dizendo que é porque minha voz ficou bonita

Fração

é que eu queria saber em quantos quartos se faz inteiro
é que eu queria saber com quantos quartos se faz inteiro
um dia me disseram que metades são mais que quartos
aprendi na aula de matemática
mas não apliquei sempre.

Fala comigo doce como a chuva

filmes me fazem chorar
tudo porque me fazem sentir ou lembrar
- antesdurantedepois -
e essas lembranças vieram
como chuva que cai forte no meu telhado:
e eu tonto acabei caindo também
tá... na lama. prontofalei
e não precisa ser esperto pra deduzir
que cacos são coisas quebradas que ficam em algum lugar

eu queria que ela doce
levasse
lavasse

É... pronto.

dias pedem horas
que pedem espaço
que pedem paredes
que pedem vento
que não pede
passa e pronto;

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Vendados

taí.
não existe verdade nem mentira: só existe; qualquer coisa que seja
aprendemos a pedir licença depois de um tempo
mas não importa, porque antes durante e depois é existência e tanto faz ficar ou sair
agradecimento é morar e não dizer "obrigado por isso"
more timidez e eu moro [sim. do jeito que você quiser entender]
pero por que te vas não moro no teu cheiro
mas no rastro, coisa tua que existe.

Blackberry

você me toca
e eu me sinto bonita
solto os cabelos
faço apelos
pelos pêlos
chama:
lucita...
acende e apaga
cigarros e sentimentos
boca-dente
beijo-mordida
noite amanhecida
garganta e silêncios
uhhhhh
bebe minha bebida
doce-forte
encorpada
e engole afundo
odaxelagnia contagia
falta ocupa espaços
grandes e apertados
entra e fecha

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sobre relacionamentos

a verdade é que nossa casa pegou fogo - e demais; mas como a gente tem mania de teimosia: resolveu catar o que sobrou e fazer castelos de cinzas. a brisa, sabida, resolveu que queria passar e passou, ela, de leve, levou nossos restos unidos, deixando-nos sós, mais distantes e perdidos.

a história da terra nua, de alguém que planta, e de uma vaca que aparece, come tudo e rumina depois.

EURI

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sem neurose

ay mon! me desculpa caton... eu gritei tão alto que te fiz doer os ouvidos. eu sei - tenho voz fina e às vezes salto alto, mas é assim mesmo. aprenda que algumas coisas são bem claras pra mim, tipo: ou sim ou não;
o corpete me aperta pra lembrar
eu te avisei que sou do tipo que quer
e o que eu quero mon
não é esperar
eu tenho pressa
e não corro com as pernas
uso elas pra otras cositas más
mas a maquiagem escorre
e me chama
dias são poeira
e eu sou terra
e digo que vermelha
e digo que vermelho
se você demora mon
adoro palco mesmo
só ás vezes faço rituais
o meu preferido é gritar
MON MON MON MON M...
tipo bem alto
MON MON MON MON MON!!!!!!!!!
alguém além de você vai escutar
e pode ser que seja divertido

aos amantes todas as promessas
e eu sou atriz
cuidado
isso pode ser inventado
tudo agora está por um triz [?]
sorria e eu beijo seus dentes
mas sinta
porque se for de verdade
eu posso parar de fingir
...
e gritar com força

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Papai

quando eu tinha seis anos e ele tava bêbado, beijei ele sem querer. foi um selinho que pegou bem no canto da boca e a primeira vez que meus lábios foram tocados por outros. eu pensava que era pecado, e que por minha causa ele ia se separar. nos dias seguintes cheguei até a olhar pra ele e rapidamente desviar o olhar, hábito. fui desabituando com o tempo.

depois de alguns anos ele se separou e me fazia dormir na cama dele. minha família começou a perguntar coisas estranhas sobre o que papai fazia. ele nunca tinha feito nada daquilo que eles diziam. tive medo, me fizeram medo, um dos medos mais antigos que lembro é esse. não durma com ele porque você pode acordar com dor em alguns lugares e você não pode sentir isso, porque ainda é muito pequena. fazia pouco tempo que eu tinha feito dez anos.

aos dezesseis, me fazia andar de mãos dadas com ele pela rua. todos o conheciam e ele gostava de me exibir, todos perguntavam se eu era a namorada e o quê ele tinha feito pra me conseguir. ele ria e se coçava, não digo onde, satisfação. um tempo depois começou a me levar pro pagode do bairro. muito carinhoso parava de dançar pra me dar beijos no rosto, abraços e pegar forte em minha mão, como quem quer confirmar que está. uma mulher se aproximou - posso dançar com seu esposo? eu ri, encolhi o corpo e disse que ele não era meu esposo e que ele tava livre.

sim, havia restaurantes, vários. você adora exibir ela por aí, não é? família preocupada ou é chato ou bonito. teve um dia que fomos comer um dos seus pratos prediletos, filé com alho na chapa, depois fiquei com gases e mal hálito porque tinha muito alho com molho barbecue; ele bebeu muito e andava caindo no meu corpo como quem pede sustentação. outra mulher olhava e veio logo na cabeça louca dele que ela estava olhando porque achava que éramos namorados. eu estava de tomara que caia com um bustiê por baixo e ele disse que ia fazer uma coisa pra ela. eu juro que ele fez não pra mim, muito menos pra mulher satisfazer qualquer desejo entrementes. eu sei que foi pra ele, senti na hora que aquilo o faria se sentir bem, ele provavelmente achava que aquilo ia aumentar seus pontos de virilidade. ele pegou em um dos meus seios no restaurante, assustei mas não pude demonstrar reação, não sei se ela viu, só sei que ele gostou. eu pude ver o sorriso. não senti nada, estava de bustiê daqueles com bojo. na verdade eu senti pena dele, pena por ter que se afirmar dessa forma, pra si mesmo e pros outros. e também por projetar um prazer em mim que nunca existiu. eu não sabia e não via as coisas como vejo hoje. quando penso nisso, me dá vontade de voltar atrás me levantar da mesa e dizer: você é um idiota e eu não sou mais sua menininha nem nunca vou ser sua mulher. adeus.


a verdade é que só tive coragem pra fazer uma cara bem feia, daquelas de quando não se gosta de alguma coisa, e de esperar uma explicação. a explicação veio e foi: você é minha menina e eu posso fazer o que eu quiser. fiquei calada, ainda terminei a comida e a bebida,afinal, ele gosta de pagar. só depois consegui dizer adeus.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Rouge sacana

amor é como batom vermelho
se você se pinta com ele
você se encanta
e todos ficam encantados
mas se você guarda na bolsa
ele sempre vai dar um jeito de abrir
e se espalhar
sujando tudo dentro;
e só vai sobrar pra você limpar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sobre bárbara de chico

vadia

me dá vontade de morder
e gritar bem alto
de puxar os cabelos dele
e beijá-lo até doer

agonia

meu sexo afoito
te pede
pra ter calma depois

sacia

cansei de poesia
agora não tem maria

cedia

você já devia saber que no final
eu trato mal

pura hemorragia;

escatologia
gia gia.

Pago com o corpo

as pessoas são muito engraçadas
e até quando mostram estão tentando esconder
não é que faltem putos
o que falta são investidores
a fuga do amor é mais que contemporânea;
pago
me diz quanto é que eu pago
ou te humilho ou me humilho com você
isso ainda decido
mas quem decide sou eu.
e a melhor parte é a hora de ir embora
eu posso sair e você vai pensar em mim
porque foi eu que te dei grana
e a gente gosta disso
de saber que fui eu
e que tem grana
porque tanto é liberdade quanto não:
não.
mas eu posso pensar ou não em você:
não.
é melhor mostrar outra coisa qualquer pra esconder

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dois minutos

eu deixo pistas quando digo tchau
porque nunca disse adeus.

eu esqueço,
esqueço:
esqueci.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Não vale a pena o último desejo de noel rosa

samba triste
e bolero de amor
gosto de música rasgando
forte como cachaça;
gosto de dor
dá ótimos versos
e às vezes é divertido
depende do prisma

seresta de bêbados
que dura até de manhã
é voz de mulher ferida
pra mim
intenso e bonito

rasguei mentiras
agora cuspo verdades
em copos bem fundos

a vida amenizou
eu queria forte
o coração precisa
das cicatrizes de roberto ribeiro
agora é qualquer uma
só mais uma
mais

suíte de pescadores
com azulejos quebrados
flores horizontais
com cores desbotadas
ouvido sem voz

adoniran não me deu a corda mi
mas o outro deixou um anel

terça-feira, 23 de junho de 2009

Poesia de lenço na mão

ele entrou
como quem entra e devasta minha casa
rasga minhas cortinas
e pinta minha boca com sua cor

ele entrou
como quem puxa os cabelos
arrepia os pelos
sem nenhum pudor

ele entrou
como quem não precisa de analista
lê horóscopo
e alivia a dor

ele entrou
como quem se faz de seguro
pulando meu muro
trazendo amor

ele entrou
mudando minha rotina
me fazendo bailarina
saltitando esplendor

ele entrou
tapando buraquinhos
abrindo uns pouquinhos
e tampando a salva-dor

ele entrou
como pedreiro fajuto
com oceano e sem luto

meu mar é revolto não é morada
carregue seu licor
verdadeiro remador

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Marcadores

pisca-pisca. não importa, meus olhos abertos ou fechados: você pisca em minha mente e eu sempre gostei de coisas que acendem e apagam. elas me perturbam porque eu dou importância o suficiente. imagina só se a escuridão se apaixonasse pela luz...
pétalas. somos pétalas, daquelas que quando venta, caem, e que com o passar dos dias e incidência dos raios desbotam; murcham. as flores sempre terão pétalas, mas nós não somos as flores. é triste eu sei, e posso até ver através das estações.
vapor. paredes brancas, nua. e tudo o que tenho são sentimentos e sensações. levanto minha mão esquerda - a das pulseiras - e sinto; uma sensação quente e confortável, úmida, o suficiente para me mudar por alguns instantes. alguma impressão de algo parecido com você e eu já preparo a boca para beber teu suor e minha sede matar. então as gotas quentes esfriam se adequando ao ambiente. minha pele pede cobertura, e eu procuro, aquecer minhas mãos com as tuas. só encontro vapor. gotas. algumas feitas mesmo por meus olhos, assumo. até uso as mãos na tentativa de limpar, mas as sensações se propagam. e se esvaem. arrepio no meio da noite gritando teu nome sem produzir som.
calor.
"qualquer inferno ou céu para florescer".
calor calor calor calor calor calor gotejante.

SEU DIABO.

sábado, 23 de maio de 2009

Putanesca

quero minhas putas de volta. eu sei, alguém deixou elas no bar, ou eu, não sei, não lembro mais. preciso. quero que elas me usem, e quero usar, adoro reciprocidade. divertimento solitário só é bom de vez em quando, tipo pra testar alguma oportunidade. quero minhas putas de volta... a onda é perdurar as sensações. quero bêbe-las, quero comê-las, quero gozá-las, quero chupá-las. o sal e o doce do rouge das bocas. noite bordô várias vezes. o barulho das cortinas de miçangas e as risadas histericamente agudas. mãos pequenas e coloridas em passeios que eu não quero que terminem. as vezes eu digo sim, as vezes eu digo não, mas tudo que eu quero é sentir, por isso não parem. quero molhar as pernas pra sempre. todas. adentrem. preciso de bar. preciso de putas alegres.

sábado, 14 de março de 2009

Tsssssssssss

um pingo no monitor
uma lambida no pingo
resultado:
uma linda bunda que dançava quando eu mexia a cabeça pros lados
ou a boca que todos querem beijar e não fica no rosto
confessem.
vocês adoram dar um tempo lá porque é quentinho e molhado
vou lou-curando.
como. eu quero.
ainda bem que existem arrepios pra pele
preciso de qualquer coisa de física porque me lembra vida.
vivir su vida

domingo, 8 de março de 2009

Livro Primeira Aparição da Manhã - Luciana Andradito

  SINOPSE “Primeira aparição da manhã” é uma seleção de poemas que compõem a primeira obra literária da escritora Luciana Andradito. Produzi...